A história da raça Poll Dorset remonta aos anos 1800, época em que a Espanha desejava conquistar a Inglaterra e trouxe os primeiros ovinos para acasalar com os carneiros de chifre do País de Gales. Rapidamente, esse cruzamento se espalhou pelo país, sendo muito apreciado
por suas qualidades desejáveis. A raça passou a ser chamada de Dorset Horn na região de Dorset, onde surgem seus primeiros registros históricos.
Muito valorizada por sua extrema adaptabilidade às diversas condições climáticas, a raça conseguia resistir a adversidades, mantendo uma habilidade materna destacada e uma alta taxa de fertilidade.
Sua carne de boa qualidade e sabor, além de uma lã fina de fácil manuseio, tornaram a Poll Dorset uma raça versátil. Sua pouca exigência nutricional a mantinha estável em qualquer tipo de pastagem. No entanto, uma característica que dificultava seu manejo eram os chifres, que eram perigosos e tornavam a lida mais difícil, especialmente porque as mulheres geralmente cuidavam da ordenha.
Na América do Norte, um continente que em determinado momento também havia importado ovinos Dorset Horn ingleses pelas suas qualidades, identificava-se o mesmo problema: os chifres. No entanto, não queriam abrir mão das maravilhosas características da raça. Foi então que, em 1949, quatro cordeiros mochos foram gerados por um Dorset Horn em uma fazenda da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Nos anos seguintes, esses quatro indivíduos e seu pai foram utilizados em projetos de reprodução, acasalando com ovinos Dorset Horn. Em partos múltiplos, nasciam cordeiros com e sem chifres, que foram sendo selecionados, aumentando o programa de reprodução. Em 1956, foram registrados os primeiros Polled Dorsets da história no Continental Dorset Club, no mesmo livro de rebanho do Dorset Horn. A prole do carneiro chamado NCSU 402, responsável pelo nascimento dos indivíduos mochos, foi comprada por fazendeiros e, em apenas vinte anos, setenta por cento de todos os Dorsets registrados no país eram sem chifres. O sucesso do Poll Dorset foi tão grande que, em pouco tempo, tornou-se a segunda raça mais criada nos Estados Unidos.
Na década de 1900, uma linhagem sem chifres de Dorset também foi desenvolvida na Oceania, mais precisamente na Austrália. Diferentemente da americana, não era proveniente de uma mutação genética, mas de acasalamentos entre raças que continham qualidades desejáveis. Houve a introdução de sangue de outras raças na então raça-mãe Dorset Horn, que era extremamente desejada por criadores de continentes distintos devido às suas qualidades. Esse novo ovino, também chamado de Poll Dorset, tornou-se rapidamente adaptável a todos os climas e microclimas do país, resistindo ao deserto árido e às baixas temperaturas e escassez de alimentos no inverno.
No mesmo continente, na Nova Zelândia, a raça foi tão bem recebida pela indústria que se tornou a maior raça de carne no país, assim como na Austrália. Sua grande base genética e o tamanho do rebanho nacional permitiram que criadores identificassem características superiores dentro da raça, colocando o Poll Dorset na vanguarda da indústria de carne ovina. A principal função é produzir cordeiros de qualidade superior para os maiores e mais exigentes mercados mundiais. A genética Poll Dorset também foi incluída em linhagens maternas, proporcionando altas porcentagens de partos, capacidade materna e leiteira, aptidão para procriar, longa estação de monta, produzindo cordeiros fora de estação e três partos em dois anos. São famosas pela facilidade de parição, resistência e capacidade de prosperar em condições quentes e secas.
No Brasil, em 1992, desembarcaram os primeiros Poll Dorsets na Cabanha do Paraíso, em Itatiba, no estado de São Paulo, provenientes de uma importação direta da Nova Zelândia. Eram 50 fêmeas e 4 machos, inspecionados pelo técnico da ARCO, Roberto Azambuja, que classificou a raça como de animais lindíssimos, baixos, largos, compridos e carnudos, conhecidos por serem criados a pasto na origem. Inicialmente desconhecida no Brasil, a raça foi mostrando suas qualidades, e criadores de outras raças de carne perceberam seu potencial, iniciando um “boom” de desenvolvimento com novas importações de animais vivos e, posteriormente, material genético. Logo, a raça se espalhou por toda a América do Sul e por países que buscavam carne de sabor superior e ovinos de fácil manejo, dóceis, resistentes e que oferecessem um bom retorno sobre o investimento.
Com base sólida em uma raça que tinha qualidades desejadas por grande parte dos criadores
na sua origem, o Poll Dorset evoluiu ainda mais e hoje é reconhecido principalmente por suas
características organolépticas de carne superior, com pouca gordura, mas com grande
marmoreio, sabor suave, destacada maciez e suculência. É um ovino de porte médio a grande,
de vida longa e prolífera, com boa capacidade leiteira.
Produz cordeiros resistentes, com crescimento, precocidade e maturidade destacados, alta
taxa de conversão, e carcaças fortemente musculosas, com lã de velo branco, forte e fechado,
livre de fibras escuras. Um de seus destaques é a notável capacidade de reproduzir mais de uma vez ao ano, sendo comumente utilizado em cruzamentos para produção de matrizes que ciclam em qualquer estação.
É uma das pouquíssimas raças que têm essa característica acíclica e assazonal. Nascimentos múltiplos são a regra e funcionam muito bem em operações comerciais, incluindo projetos onde os carneiros são utilizados especificamente na geração de cordeiros para o mercado.
Os machos Poll Dorsets são utilizados como reprodutores terminais por terem uma genética adequada tanto para o abate quanto para fins de reprodução, assim como as fêmeas que são utilizadas como raça-mãe. Desde que o Poll Dorset se tornou comercial, e por sua adaptabilidade tanto em confinamento quanto em sistemas extensivos, ele se espalhou por todos os continentes e hoje é destaque por sua contribuição na indústria comercial de cordeiros, sendo prontamente utilizado em programas de cruzamento acelerado. Também é utilizado como base para novas raças carniceiras em desenvolvimento.
Prosperando em várias condições adversas, o Poll Dorset também é conhecido por sua alta taxa de conversão e resistência à verminose, o que o torna uma raça melhoradora e complementar às demais já existentes.
por Rodrigo Galléas, Ovinocultor, empresário, e sócio-proprietário da Cabanha King Star